Experiência de Carlos Eduardo Ramos, o Sr. Carlinhos, foi essencial para a localização do corpo do Cabo Batalha, além de outros três no Morro da Bela Vista


 

Diante de tanta tristeza e comoção com as vítimas fatais dos deslizamentos dos morros, ocasionados pela tempestade que atingiu Guarujá na semana passada, o operador de escavadeira, Carlos Eduardo Ramos, conhecido como ‘Senhor Carlinhos’, desponta como um caso de superação.

O alagoano e guarujaense de coração, é morador do bairro Perequê. Com 66 anos de idade, sendo 45 deles de experiência com retroescavadeiras, ele se tornou uma figura imprescindível na busca por desaparecidos, incluindo o cabo Batalha, do Corpo de Bombeiros.

O secretário de Operações Urbanas de Guarujá testemunhou o comprometimento do trabalhador. "Foram 15 horas de trabalho diárias. Ele não admitia substituição nos turnos, se dedicou integralmente". Segundo ele, a experiência de Carlinhos foi essencial no trabalho de buscas. "Sem ele, com certeza os trabalhos durariam muito mais tempo no Morro do Macaco, pois todos os corpos encontrados, de fato soterrados, foi ele quem encontrou".

Carlinhos explica que o trabalho é minucioso e precisa ser feito com muita atenção, pois retroescavadeiras têm alta capacidade para remover sedimentos de um local para o outro e, enquanto ser humano, ele carrega o desejo de manter íntegro, o corpo das vítimas fatais soterradas para o último encontro com os familiares.

Gritos

Na última segunda-feira (9), por volta das 21 horas, Carlinhos recorda que estava atuando no Morro da Bela Vista (Macaco Molhado), quando ouviu gritos de bombeiros para que paralisasse o trabalho. Foi quando encontraram o corpo do cabo Batalha, encolhido.

Com muito cuidado, retirou uma pedra que estava próxima da cabeça do militar, que morreu em operação no morro, enquanto tentava salvar outras vidas, e então os bombeiros puderam retirar o corpo do local. O funcionário relembrou o momento, e não conteve as lágrimas. "Naquele dia, eu só fui embora depois que retiraram o cabo Batalha. É muito triste procurar um corpo e não encontrar, então fiz a minha parte".
Com o seu instrumento de trabalho, ele presta serviços para a Secretaria Municipal de Operações Urbanas (Seurb) e, durante todos esses anos de atuação, nunca viu nada parecido com essa tragédia. "Foi a primeira vez que vi uma situação dessas e espero que seja a última".

Agora, as buscas no Morro da Bela Vista foram encerradas e ele atua no Morro da Barreira do João Guarda, onde dá o seu melhor para que mais famílias possam ter o velório digno de seus entes queridos. Até o momento, 9 pessoas seguem não localizadas no local.